Apesar do campo de empreendedorismo social ter ganhado relevância tanto na academia como na prática nas últimas duas décadas, ainda há pouca literatura sobre os desafios dos empreendedores que vêm das periferias e sofrem com a falta de vários recursos, inclusive capital financeiro, social e humano. No ecossistema do empreendedorismo social, há uma proliferação de programas de aceleração que oferecem apoio a esses empreendedores. Entretanto, há poucos estudos que analisam sua eficácia e como eles podem influenciar a confiança e a autenticidade dos empreendedores. Nossa pesquisa tem como objetivo explorar o papel que as aceleradoras podem desempenhar no apoio aos empreendedores sociais da Base da Pirâmide em sua narrativa de negócios e entender como os programas de aceleração tradicionais podem se adequar (ou não) às identidades dos empreendedores de periferia. Para atingir nossos objetivos, implementaremos diferentes abordagens metodológicas. Os dados serão baseados nos pitches de cerca de 50 empreendedores antes e depois de dois programas de aceleração (ANIP e Vaitec). A análise se concentrará nas mudanças nos pitches em termos de sua estrutura de negócios, bem como nas emoções dos empreendedores. Essa análise será dividida em quatro etapas. Na primeira, os pitches dos empreendedores serão avaliados por especialistas do mercado. Em segundo lugar, faremos uma análise de conteúdo dos pitches apresentados pelos empreendedores sociais de periferia para identificar os principais elementos de seus modelos de negócios. Em terceiro lugar, avaliaremos os vídeos usando um software que analisa especificamente as emoções faciais e de voz dos empreendedores. Por fim, entrevistaremos alguns desses empreendedores para entender suas percepções sobre os programas de aceleração e como eles influenciaram sua jornada. Como resultado, pretendemos ter uma melhor compreensão da influência dos programas de aceleração em empreendedores sociais que vêm das periferias do Brasil em uma perspectiva decolonial. (AU)

A pesquisa tem por objetivo investigar as barreiras, os desafios e os comportamentos de superação de mulheres negras que empreendem, estigmatizadas por pertencerem ao grupo minorizado, com pouca representação social, política, econômica que as levam a ter dificuldade de inserção no mercado de trabalho. Duas pesquisas antecederam este projeto, uma que propiciou o desenvolvimento de uma tipologia de ameaças vivenciadas por mulheres empreendedoras e os comportamentos de superação - FAPESP nº2015/25970-8 (2016-2018), e outra sobre a influência das ameaças de gênero e do comportamento de superação na satisfação do trabalho e na família de empreendedoras - validando uma escala - FAPESP nº2019/1009-1. A proposta desta pesquisa amplia o conhecimento da área de empreendedorismo de grupos minorizados, pouco abordado na literatura e aplicado no contexto econômico e social. A pesquisa é de natureza qualitativa, a ser realizada por meio de entrevistas, grupos focais e quantitativa utilizando-se de survey. As mulheres participantes da pesquisa fazem parte da Rede de Mulheres Empreendedoras, Rede Mulheres do Brasil, participantes da rede afro-brasileira e outro grupo de Empreendedoras americanas, do Estado de Illinois, Peoria em parceria com a Woman Employed de Chicago e com o Office of Minority Economic Empowerment at The Illinois Department of Commerce and Economic Opportunity. Os dados da etapa qualitativa serão categorizados e tratados por meio de análise de conteúdo e na etapa quantitativa será adotada a análise, uni, bivariada e multivariada. A pesquisa poderá revelar importantes resultados no campo acadêmico, social e gerencial, sobretudo, para desenvolver proposições de políticas públicas em pró deste grupo de mulheres negras empreendedoras, pouco representado social, político e economicamente que as levam a ter dificuldade de inserção no mercado de trabalho, ocupação de cargos de poder e sobrevivência. Este grupo, muitas vezes, está à margem dos interesses sociais. (AU)

Em meio à um extenso processo de precarização, flexibilização e revoluções tecnológicas informacionais e comunicacionais, a plataformização de diversas atividades resulta em novos arranjos nas relações de trabalho, como no caso dos entregadores ciclistas por aplicativo, - bikeboys - composto por jovens negros e periféricos. Visando compreender como o empreendedorismo é utilizado como estratégia de sobrevivência construída e experimentada por bikeboys no município de São Paulo-SP, minha pesquisa de mestrado vem sendo conduzida junto a um grupo de cicloentregadores concentrados em um ponto próximo à Praça da República no centro de São Paulo, com os quais está sendo realizado um estudo baseado nas análises das trajetórias dos indivíduos selecionados. Dentro desse escopo, este projeto apresenta uma proposta de Bolsa de Estágio de Pesquisa no Exterior, a ser desenvolvido no Laboratoire Interdisciplinaire de Sociologie Économique (LISE) - CNAM, sob a supervisão do Prof. Dr. Christian Azaïs. O principal objetivo deste projeto BEPE é avançar teórica e metologicamente na análise de como o discurso empreendedor é assimilado, ressignificado e mobilizado por bikeboys, considerando a relação entre as trajetórias sociais dos sujeitos e suas estratégias construídas e experimentadas no trabalho plataformizado de cicloentregas. Nesse sentido, o contato com pesquisadores e atividades desenvolvidas no LISE, contribuirá teórica e metodologicamente para o desenvolvimento da investigação empreendida no mestrado, especialmente no que diz respeito aos trabalhos de Christian Azaïs, que destacam a importância da análise das "zonas cinzentas" no mundo do trabalho. Ao longo do estágio, me dedicarei à revisão de literatura, atividades acadêmicas promovidas pelo LISE e pesquisa exploratória na região de Saint-Denis junto ao supervisor. (AU)

As startups responsáveis por otimizar o uso de recursos naturais para fornecer processos, serviços e produtos capazes de gerar não somente valor econômico, mas também ambiental e social, são denominadas Greentechs (GTs). O Brasil possui um imenso potencial para o desenvolvimento de GTs, e para auxiliar essas startups a se desenvolverem, esse projeto pretende analisar os fatores relevantes para o desenvolvimento de GTs em Ecossistemas de empreendedorismo (EEs), por meio da obtenção de uma lista validada por especialistas em GTs, entre praticantes e acadêmicos, dos EEs analisados. A Bolsa no País analisará o EE do Vale do Piracicaba, no interior de São Paulo, e o presente projeto BEPE pretende contribuir para a iniciação científica por meio da análise do EE da Baixa Saxônia, na Alemanha. Os resultados serão obtidos utilizando o método Fuzzy-Delphi, mecanismo de decisão em grupo composto por especialistas de profundo conhecimento em um assunto pesquisado em direção ao seu consenso. Sabe-se que a Alemanha é um dos países mais desenvolvidos do mundo em greentechs, empreendedorismo sustentável, tecnologias verdes e Indústria 4.0. Portanto, espera-se que a comparação dos resultados obtidos no Brasil com os de um país referência na área possibilite auxiliar a tomada de decisão das partes interessadas, por meio da compreensão de como diferenças culturais, sociais e materiais em EEs influenciam o desenvolvimento de GTs. Além disso, é esperado que a lista priorizada de atributos sirva de subsídio para futuros estudos que visem desenvolver recomendações para tornar EEs brasileiros mais propícios ao desenvolvimento de GTs, e, por conseguinte, mais verdes e mais sustentáveis. (AU)

Nosso projeto consiste em três artigos usando técnicas modernas e novos dados para estudar problemas empíricos em Economia Feminista e Desenvolvimento Econômico. Os trabalhos em coautoria com diferentes pesquisas no Brasil e no exterior variam em fonte de dados e modelos econométricos. O objetivo da estada na University of Illinois Urbana Champaign é ampliar o escopo de pesquisa do Doutor Abras, ampliar a rede e atualizar o conhecimento para o ensino na UFABC. (AU)

Na posição de pesquisador visitante do Latin American and Caribbean Center da London School of Economics (LSE-LACC), pretendo desenvolver minha pesquisa em termos comparativos - tanto teóricos quanto metodológicos - e escrever dois artigos originais. O primeiro investigará o crescimento da disposição empreendedora em meio ao neoliberalismo, à precariedade e às frustrações do mercado formal de trabalho. O segundo irá analisar as práticas ativadas por essa disposição empreendedora nas periferias urbanas e suas múltiplas expressões, incluindo o desejo de produzir "impacto social" e associações com atividades criminosas e ilegais. Ambos os artigos abordarão os temas de uma perspectiva comparada com foco na América Latina. Este período como pesquisador visitante proporcionará também uma internacionalização da investigação de quatro formas. Primeiro, pretendo participar dos seminários do LSE-LACC e apresentar os resultados da minha pesquisa nessas oportunidades. Em segundo lugar, pretendo visitar outros importantes centros de pesquisa voltados para a América Latina e outras questões semelhantes àquelas de meus interesses, onde estabeleci um diálogo inicial, como o Latin American Center da Universidade de Oxford e a Universidade de Cardiff. Terceiro, aprofundarei uma discussão já iniciada com pesquisadores da Universidade de Cardiff para a preparação de uma publicação coletiva sobre neoliberalismo e precariedade no trabalho. Por fim, pretendo usar minha passagem pelo exterior para preparar um workshop a ser apresentado no Cebrap, como parte da divulgação de resultados de pesquisas no Brasil, possivelmente em formato híbrido (presencial e virtual), reunindo pesquisadores brasileiros e britânicos em torno do tema das estratégias de mobilidade social nos mercados (in)formais e (i)legais. (AU)

O presente projeto focaliza os usos da categoria "empoderamento" para a formulação de uma agenda internacional de políticas de igualdade de gênero, destinada particularmente aos países pobres do Sul Global. Como uma extensão do projeto principal sobre a relação entre discursos de feminismo e práticas de empreendedorismo entre jovens universitárias negras, a presente proposta procura elucidar o papel dos projetos internacionais de empoderamento de mulheres - envolvendo a parceria entre empresas transnacionais e atores públicos - para a promoção de políticas de desenvolvimento local. São dois os meus objetivos: a) produzir uma reconstrução histórica, já em andamento, sobre as origens do conceito de "empoderamento das mulheres", em diálogo com a literatura feminista sobre desenvolvimento; b) mapear e investigar projetos que visem o empoderamento das mulheres nas últimas duas décadas, dando especial atenção às articulações entre gênero e desenvolvimento, que envolvem a relação entre dinâmicas transnacionais, promovidas por documentos de agências multilaterais, financiamento privado de grandes empresas e projetos sociais em nível local, em sua maioria direcionados aos países do Sul Global. Ao lado das pesquisas etnográficas online e off-line realizadas no Brasil, este projeto focaliza a produção e a análise de um quadro documental que engloba as disputas dos significados de "empoderamento" para envolver mulheres de diferentes classes sociais em uma linguagem econômica articulada aos discursos feministas. (AU)

Os burocratas de nível-de-rua são centrais não apenas para a implementação de políticas, mas em todo o processo de políticas públicas. O Empreendedorismo de Políticas Públicas dos burocratas de nível-de-rua é reconhecido como importante para engajar SLBs (street level bureaucrats), mas também para melhorar a formulação das políticas públicas. Nas últimas décadas, estudos em SLBPE (Street-level bureaucrats Policy Entrepreneurship) identificaram antecedentes individuais e contextuais para a emersão do empreendedorismo de políticas públicas dos burocratas de nível-de-rua, estratégias empreendidas por SLBs e impacto no processo de políticas públicas. Além disso, a literatura existente também identificou o papel das redes e do esforço coletivo. No entanto, a literatura SLBPE carece de maior articulação entre os aspectos individuais, relacionais e coletivos do comportamento de empreendedorismo de políticas públicas por parte dos burocratas de nível-de-rua. Para suprir essa lacuna, o presente projeto tem como objetivo explicar o comportamento empreendedor e a intenção de exercer Empreendedorismo de Políticas Públicas no contexto da Educação Infantil pública do município de São Paulo. Um questionário será enviado a uma amostra de 1.800 profissionais, compreendendo as características da rede dos indivíduos, percepções sobre habilidades coletivas, empoderamento frente as políticas públicas e atitudes em relação à mudança de políticas públicas. Os dados serão analisados por meio de Análise Comparativa Qualitativa (fsQCA). (AU)

A educação do empreendedorismo está em alta nas agendas políticas devido às suas contribuições para a mudança cultural e o crescimento econômico (Lindh e Thorgren, 2016). Ampliar o foco da educação do empreendedorismo aumenta não somente a consciência empreendedora, mas também o conhecimento empreendedor nos indivíduos. Estes por sua vez podem atuar como empreendedores ou dar suporte às atividades empreendedoras como investidores, clientes e fornecedores (Leitch, Hazlett e Pittaway, 2012). Na presente pesquisa, educação empreendedora não é somente como se começa um novo negócio. Antes, ela engloba todos os programas, processos e abordagens pedagógicas que desenvolvem as competências e atitudes empreendedoras (Fayolle e Klandt, 2006). Novos cursos em empreendedorismo estão surgindo a toda hora (Johnston, Hamilton and Zhang, 2008), motivando jovens a começar novos negócios, especialmente aqueles baseados na economia digital. As universidades agora têm um papel central neste movimento despertando o interesse de pesquisadores ao redor do mundo para entender as dinâmicas entre estas universidades e os ambientes em que estão inseridas. As universidades se tornam empreendedoras quando se envolvem em uma parceria com os agentes de seus ambientes, e aos estudantes é dada a experiência empreendedora prática e oportunidadess para aprender em contextos além das salas de aulas (Cope e Watts, 2000). Elas são desafiadas neste século a ampliar suas missões inicialmente focadas em (1) educação, e (2) pesquisa, para (3) empreendedorismo. A sociedade espera que as universidades sejam centros de produção de capital humano com capacidade de gerar negócios e empregos, um ponto central em países em desenvolvimento que hoje enfrentam altas taxas de desemprego.A maior parte das pesquisas realizadas sobre universidades empreendedoras foca em estudos de caso de universidades empreendedoras enquanto instituições. O propósito da presente pesquisa é o de explorar as dinâmicas entre as universidades empreendedoras e o ambiente institucional, e a sua contribuição para o desenvolvimento econômico e social das nações. Trata-se da continuação das pesquisas de David V. Gibson neste intrigante tópico (Foss e Gibson, 2015). Gibson pesquisou universidades empreendedoras em duas regiões (1) Suécia, Finlândia e Noruega, e (2) Estados Unidos e Reino Unido. Esta pesquisa envolve a aplicação da metodologia em universidades das Américas do Norte e Latina, e Europa. Para tal, o pesquisador realizará um estagio sabático em um grupo de pesquisa que é lider mundial na área de universidades empreendedoras. O pesquisador será acolhido pelo Dr. David V. Gibson, diretor associado ao IC2 Institute da Universidade do Texas em Austin, Estados Unidos, onde terá acesso ao Estado da Arte na pesquisa de universidades empreendedoras e, ao regresso, continuará com essa linha de pesquisa no Brasil junto à Agência de Inovação - InovaUFABC da Universidade Federal do ABC, São Paulo. (AU)

O Brasil e a grande parte da América Latina passaram por uma importante transformação no mercado religioso nas últimas décadas. Um declínio substancial da grande maioria católica foi acompanhado por um aumento na parcela da população protestante neopentecostal, de 10% em 1990 para quase 30% em 2010. Este projeto de pesquisa visa compreender o papel das mídias religiosas organizadas na promoção de mudanças tão dramáticas. Ao explorar a variação exógena na qualidade do sinal das redes de TV e rádio protestantes geradas pela topografia na linha de visão entre os transmissores de rádio e as residências, conseguimos identificar o efeito da cobertura da mídia religiosa nas afiliações. Os resultados preliminares indicam que o recebimento de mídia religiosa pode explicar até 50% do crescimento de afiliação protestante no período. O efeito é mais forte em áreas sem concorrência de outros rádios e há complementaridades com templos existentes na mesma área geográfica. Também buscaremos investigar se os domicílios expostos à mídia religiosa estão associados a mudanças de comportamento, como voto, empreendedorismo e decisões de fecundidade.